S02:E12 - A Bruxa (Carlos Drummond de Andrade)

S02:E12 - A Bruxa (Carlos Drummond de Andrade)

In this episode, Alexia reads one of her favorite poems by Carlos Drummond de Andrade, A Bruxa. It's beautiful, entertaining, and educational. Enjoy.-------------------------A BruxaNesta cidade do RioDe dois milhões de habitantesEstou sozinho no quartoEstou sozinho na América.Estarei mesmo sozinho?Ainda há pouco um ruídoAnunciou vida a meu lado.Certo não é vida humana,Mas é vida. E sinto a BruxaPresa na zona de luz.De dois milhões de habitantes!E nem precisava tanto...Precisava de um amigo,Desses calados, distantes,Que lêem verso de HorácioMas secretamente influemNa vida, no amor, na carne.Estou só, não tenho amigo,E a essa hora tardiaComo procurar amigo?E nem precisava tanto.Precisava de mulherQue entrasse nesse minuto,Recebesse esse carinhoSalvasse do aniquilamentoUm minuto e um carinho loucosQue tenho para oferecer.Em dois milhões de habitantesQuantas mulheres prováveisInterrogam-se no espelhoMedindo o tempo perdidoAté que venha a manhãTrazer leite, jornal, calma.Porém a essa hora vaziaComo descobrir mulher?Esta cidade do Rio!Tenho tanta palavra meiga,Conheço vozes de bichos,Sei os beijos mais violentos,Viajei, briguei, aprendiEstou cercado de olhos,de mãos, afetos, procurasMas se tento comunicar-me,O que há é apenas a noiteE uma espantosa solidãoCompanheiros, escutai-me!Essa presença agitadaQuerendo romper a noiteNão é simplesmente a Bruxa.É antes a confidênciaExalando-se de um homem.2023 is the year to improve your Portuguese! Come join us in the Carioca Connection Club. https://cariocaconnection.com
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In this episode, Alexia reads one of her favorite poems by Carlos Drummond de Andrade, A Bruxa. It's beautiful, entertaining, and educational. Enjoy.

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A Bruxa


Nesta cidade do Rio

De dois milhões de habitantes

Estou sozinho no quarto

Estou sozinho na América.


Estarei mesmo sozinho?

Ainda há pouco um ruído

Anunciou vida a meu lado.

Certo não é vida humana,

Mas é vida. E sinto a Bruxa

Presa na zona de luz.


De dois milhões de habitantes!

E nem precisava tanto...

Precisava de um amigo,

Desses calados, distantes,

Que lêem verso de Horácio

Mas secretamente influem

Na vida, no amor, na carne.

Estou só, não tenho amigo,

E a essa hora tardia

Como procurar amigo?


E nem precisava tanto.

Precisava de mulher

Que entrasse nesse minuto,

Recebesse esse carinho

Salvasse do aniquilamento

Um minuto e um carinho loucos

Que tenho para oferecer.


Em dois milhões de habitantes

Quantas mulheres prováveis

Interrogam-se no espelho

Medindo o tempo perdido

Até que venha a manhã

Trazer leite, jornal, calma.

Porém a essa hora vazia

Como descobrir mulher?


Esta cidade do Rio!

Tenho tanta palavra meiga,

Conheço vozes de bichos,

Sei os beijos mais violentos,

Viajei, briguei, aprendi

Estou cercado de olhos,

de mãos, afetos, procuras


Mas se tento comunicar-me,

O que há é apenas a noite

E uma espantosa solidão


Companheiros, escutai-me!

Essa presença agitada

Querendo romper a noite

Não é simplesmente a Bruxa.

É antes a confidência

Exalando-se de um homem.

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